
Ao passar pela Avenida Leste-Oeste, uma das rotas com maior tráfego em Fortaleza, a paisagem típica da cidade é substituída pela visão de uma das praias mais frequentadas da capital, a Praia da Leste. Além do potencial econômico e turístico que ela possui, o surfista profissional Itim Silva, de 37 anos, percebeu um outro propósito comercial para o local: o surf.
Dessa forma, o atleta fortalezense decidiu dividir o seu amor pelo esporte com as pessoas da região e inaugurou a escolinha Itim Silva Surfschool, em 2010. O projeto também tinha o objetivo de servir como uma fonte de renda complementar para a sua família e o ajudar a arcar com os custos das competições esportivas que participava, as quais o levaram a se tornar campeão estadual profissional em 2013.
Doze anos depois, a prática do surf no local continua intenso, com cerca de 15 escolinhas dividindo espaço no mar. Segundo o surfista, esse interesse da população ajudou as atividades ligadas ao esporte a se tornarem uma importante fonte de sustento para diversos jovens e adultos que moram na comunidade do Pirambu.
“Temos uma grande procura porque o surf está em alta e somos campeões olímpicos. Além de fazer super bem para corpo e a mente, o surf é um dos melhores remédios para todas idades”, declara Itim Silva.
A Surfschool possui cerca de 90 alunos matriculados de forma privada, ou seja, que pagam pelas lições práticas, porém, para incentivar crianças e adolescentes a se conectarem com a modalidade, também são oferecidas aulas particulares gratuitas.
Além dos ensinamentos sobre o surf, essas lições focam em educar sobre cidadania e preservação ambiental. Atualmente, o projeto social beneficia cerca de 120 alunos, os quais residem nos bairros Carlito Pamplona, Moura Brasil, Centro, Barra do Ceará e Pirambu.
Para a assistente social Robertha Arrais, 36, a participação dos jovens em projetos sociais os ajuda a compreender seu papel dentro de sua família e de sua comunidade, o que os leva a desenvolver novas habilidades e a tomar decisões de forma mais madura e consciente.
Além disso, ela esclarece que as interações proporcionadas pelo convívio com pessoas diferentes contribuem para a construção de um grupo de apoio emocional e de uma rede segura para a troca de experiências, principalmente quando as pessoas são conectadas por alguma atividade esportiva.
“O ser humano é movido de interação, ele é movido de estar perto de outras pessoas. A parte de esporte é muito eficaz na infância, na juventude e na terceira idade, onde consegue ser uma ferramenta de resgate, de fortalecimento. O esporte está inserido na questão da saúde, mas, para os jovens, ele trabalha outros aspectos que perpassam pela modalidade que está sendo desenvolvida”, conclui.
A escolinha do surfista também chamou a atenção de empresas privadas, que se tornaram suas patrocinadoras, e do Governo do Estado, que acompanha e promove a realização de algumas atividades.
Segundo Robertha Arrais, o envolvimento de agentes públicos em projetos sociais como este é essencial para a identificação de problemáticas que podem estar presentes na vida dos alunos, como a violência doméstica, o abuso de drogas e a fome.
O reconhecimento dessas mazelas facilita a chamada “atuação em rede”, que consiste em encaminhar jovens vulneráveis aos cuidados de outros projetos sociais para que eles possam receber o apoio necessário.
Para facilitar o acesso do público ao serviço que disponibiliza e o inserir nessa rede de apoio, Itim Silva declara que investe na compra dos equipamentos essenciais para as aulas, como o “pranchão” e o “Longboard”. Dessa forma, disponibiliza os materiais necessários para que mais pessoas sejam incluídas nas aulas gratuitas.
Com o fim das restrições impostas pelas regras de segurança sanitária instauradas durante a pandemia de Covid-19, o surfista planeja expandir os ensinamentos de sua surfschool para o todo o Brasil. Porém, ele afirma que, no momento, o seu principal objetivo é acolher mais jovens interessados em aprender sobre o esporte e, assim, continuar espalhando “um dos melhores remédios para todas as idades”, o surf.
Fonte: Jornal O Estado CE