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Primeira mastectomia trans pelo SUS no Ceará foi realizada na Meac

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No dia 19 de maio, a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), realizou a primeira mastectomia de afirmação de gênero via Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. A cirurgia, que remove as mamas em homens trans, foi viabilizada pela contratualização entre a instituição e a Prefeitura de Fortaleza.

A iniciativa, que prevê um procedimento por mês, representa um avanço na consolidação de uma rede pública de apoio e acolhimento à população trans. O CH-UFC é vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

“Eu me senti muito livre”

Arthur Gael Lima, de 29 anos, foi o paciente beneficiado por este procedimento e compartilhou o que sentiu ao se ver, pela primeira vez, após a cirurgia. “A sensação de tirar uma foto e não ver mais os seios que não condiziam com quem eu sou. Agora eu posso ficar sem blusa. Eu me senti muito livre”, contou.

Arthur chegou ao Serviço de Mastologia da Meac no dia 24 de fevereiro deste ano, já encaminhado pelo Serviço Ambulatorial Transdisciplinar para Pessoas Transgênero (Sertrans), ambulatório mantido pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), que oferece uma assistência multidisciplinar às pessoas trans. Ele também relatou a qualidade do atendimento recebido em todo o processo: “O suporte foi todo pelo SUS. Me senti mais bem atendido do que em clínica particular. Fui acolhido desde o início por uma equipe muito empática”.

Apoio em Rede

A realização da mastectomia transexualizadora foi destacada pelo gerente de Atenção à Saúde, Edson Lucena, como um marco de cuidado, respeito e inclusão. “Mais do que uma cirurgia, é um passo afirmativo no reconhecimento da identidade de uma população historicamente marginalizada e que enfrenta inúmeros obstáculos no acesso à saúde. A Meac, ao ofertar esse cuidado, reafirma seu compromisso com a equidade, a diversidade e os princípios do SUS”, afirmou. O gerente também enfatizou a importância de um serviço público que acolha com dignidade, reforçando uma assistência integral e livre de preconceitos a todas as pessoas.

A cirurgia realizada em maio é a primeira dentro do projeto oficialmente contratualizado com o órgão gestor municipal. Há cerca de sete anos, duas mastectomias em homens trans foram realizadas na Meac, mas em caráter de ensino, sem contratualização com o município. Agora, o procedimento será realizado mensalmente em pacientes acompanhados pelo Sertrans.

Como primeiro passo, o paciente deve buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua residência e solicitar o encaminhamento para o Ambulatório Sertrans, que o acompanhará e o destinará para a realização da mastectomia na Maternidade-Escola. “Foi uma grande conquista termos, finalmente, um serviço que ofereça esta cirurgia na rede pública”, ressaltou a chefe do Serviço de Mastologia da Meac, Milena Holanda.

A especialista explicou que a mastectomia masculinizante é uma das etapas finais do processo transexualizador. Para a realização da cirurgia, é necessário que o paciente seja maior de idade e atenda aos critérios estabelecidos pelas diretrizes médicas.

“O paciente passa por uma consulta com a médica mastologista do serviço, onde é feita a avaliação para a cirurgia. Nesse momento, discutimos todas as etapas do processo cirúrgico: cuidados, riscos e alinhamos expectativas. Ele permanece conosco até receber alta do ambulatório, quando já realizou a cirurgia e está apto a retomar suas atividades cotidianas”, descreveu.

Após a cirurgia, os cuidados se concentram na manutenção do dreno, na cicatrização e na observação do enxerto da aréola, que é uma das partes mais delicadas do procedimento, sinalizou a mastologista Cristiane Coutinho, que realizou esta cirurgia junto à Milena Holanda e à residente em Ginecologia e Obstetrícia, Rute Melo.

Cristiane Coutinho também reforçou a importância do SUS na viabilização dessa cirurgia, especialmente para aqueles que não têm acesso a plano de saúde ou condições financeiras de arcar com os altos custos do procedimento na rede privada. “É gratificante ver a emoção deles ao acordar da cirurgia e passar a mão no tórax masculino, sem aquele volume que tanto os incomodavam”.

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