Home Saúde Janeiro Roxo: Diagnóstico tardio aumenta as chances de contágio pela hanseníase

Janeiro Roxo: Diagnóstico tardio aumenta as chances de contágio pela hanseníase

9 min read
0
0
64

O último domingo de janeiro, que neste ano será em 26, é o Dia Nacional de Combate e Prevenção à Hanseníase. A data foi instituída no Brasil em 2009, com o objetivo de alertar e conscientizar a população e os profissionais de saúde sobre a doença. O país, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), tem a segunda posição mundial em casos anuais: cerca de 18,3 mil.

Em 2016, o Ministério da Saúde (MS) criou a campanha “Janeiro Roxo”, que promove diversas ações para educar, prevenir, estimular o diagnóstico precoce e desmistificar crenças sobre a enfermidade, que, no passado, gerava grande estigma social, além de medo e preconceito.

O médico dermatologista Theodoro Habermann Neto, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), explica que a doença é causada pela bactéria Mycobacterium leprae, “prima” da tuberculose.

“O contágio se dá por vias respiratórias, transmitida por contato próximo e prolongado com pessoas infectadas, e que não estão em tratamento. Algumas pessoas podem apresentar manchas na pele (brancas, rosadas, avermelhadas e acastanhadas), perder totalmente a sensibilidade no local ou ter alteração no tipo de sensibilidade, tais como dormência, formigamento ou sensação de coceira. Também podem deixar de suar no local, perder os pelos, ficar com a pele seca e até ter diminuição ou engrossamento da textura da pele. Em casos mais severos pode ocorrer o comprometimento de movimentos. A doença acomete a pele e o sistema nervoso periférico, que inerva vasos, glândulas, pelos, bem como nervo sensitivo e motor”, explica sobre os sintomas.

Esses sinais não devem ser ignorados ou negligenciados. Quanto antes é feito o diagnóstico médico, menores são as sequelas e o risco de transmissão. “Hoje sabemos que a doença é curável e que, com o tratamento adequado, a transmissão é interrompida rapidamente”, diz o médico.

“No entanto, a doença, apresenta um período longo de incubação, que varia de três a sete anos. E, às vezes, antes do paciente apresentar o quadro clínico, ele já pode transmitir a doença”, alerta.

Diagnóstico

Conforme Habermann, a hanseníase é identificada por meio de exame físico geral, dermatológico e neurológico. “Em alguns casos usamos exames complementares como a baciloscopia, que mede a carga de bactérias presente no organismo, e a biópsia, que remove um pedacinho da pele, com anestesia, e encaminha para confirmação do diagnóstico”, explica.

Em crianças, o diagnóstico exige uma avaliação mais criteriosa, devido à dificuldade de aplicação e interpretação dos testes de sensibilidade.

Tratamento

O tratamento é feito com o uso de medicamentos antimicrobianos e não exige internação do paciente. A duração varia conforme a forma clínica da doença. “Os graus da hanseníase são classificados da seguinte forma: zero, quando o paciente não apresenta nenhuma alteração; um, quando apresenta apenas alterações sensitivas; e dois, quando há alterações motoras, úlceras e problemas de visão”, diz.

Negligência

“Quando a hanseníase não é tratada de forma adequada, pode deixar sequelas severas. Causando deformidades (devido à necessidade de amputações), incapacidade de algumas atividades, feridas difíceis de curar, úlcera, a pele pode ficar com caroços, ocorrer a perda de pelos inclusive na sobrancelha, coceira e irritação nos olhos, entupimento e sangramentos de feridas no nariz. Então, essas seriam as manifestações importantes de casos diagnosticados tardiamente”, diz.

Na história, diagnóstico já foi sentença de isolamento

O médico conta que, antigamente, a hanseníase era conhecida como lepra e os pacientes com a doença, nos idos de 1930, eram “condenados” ao isolamento. O Brasil tinha cerca de 18 “leprosários” e as pessoas acometidas pela doença eram destinadas a esses locais, devido a se tratar de uma doença altamente contagiosa e para a qual não havia tratamento. Esses locais funcionavam como pequenas vilas, com casas, alojamentos e supermercados.

O isolamento era para que os doentes não contaminassem outras pessoas, pois havia um receio muito grande. Em alguns casos, outras doenças de pele, como a psoríase, acabavam sendo confundidas com a lepra e o paciente destinado aos leprosários.

A doença também trazia um estigma religioso muito grande. Segundo o médico, era comum, que numa família de dez pessoas, apenas uma desenvolvesse a patologia, o que era considerado uma “maldição”. Com o tempo, descobriu-se que isso ocorre porque 92% das pessoas são resistentes a essa bactéria e mesmo com a proximidade de pessoas infectadas, não chegavam a desenvolve-la.

Só em 1980, surgiu a cura para a doença, que deixou de ser chamada de lepra e passou a ser chamada de hanseníase. O tratamento é feito por meio da poliquimioterapia (PQT), uma espécie de coquetel de medicamentos que, além de curar, interrompe a transmissão e previne as deformidades. Foi neste período que os pacientes deixaram de ser isolados e a sociedade passou a conviver melhor com as pessoas em tratamento.

Carregar mais artigos relacionados
Carregar mais por Kátia Alves
Carregar mais Saúde

Deixe um comentário

Verifique também

Projeto Capacita Girassol realiza formação de profissionais do IJF para atendimento de pacientes com autismo

A Prefeitura de Fortaleza, por meio do Instituto Doutor José Frota (IJF), realiza, nesta q…