
Qual o poder da câmera de um smartphone? Nas mãos da fotógrafa Jane Batista, o celular tornou-se instrumento de reflexão e a levou em mergulho por questões pessoais, mas que, com certeza, também perpassam as vivências de mulheres por todos os lugares.
Buscando dar vazão a estas inquietações e ao silenciamento feminino, ela fotografou ao longo de anos o que estará presente na exposição Dizer o Silêncio, que poderá ser conferida pelo público a partir deste sábado (8), a partir das 10h, na Imagem Brasil Galeria, no bairro Aldeota. O acesso é gratuito e os trabalhos poderão ser vistos até 2 de setembro.
Com curadoria de Aldonso Palácio, a mostra – primeira solo da artista – é composta de 38 fotografias de uma série de autorretratos da moradora do Serviluz. Nos registros, Jane utiliza o próprio corpo e reveste-se de objetos do cotidiano, formando adereços e camadas, usando-os para transmitir sentimentos e frustrações de ser uma mulher negra em constante luta.
“Espero que as pessoas vejam as dores dos espinhos que transpassam a alma invisível, que enxerguem no feio o que é belo, e aquilo que nos é privado, silenciado”, estima a fotógrafa.
Autodidata na arte de eternizar momentos através das lentes, Jane começou a caminhada na fotografia em 2020, usando como inspiração a dinâmica do lar e dos filhos. Foi quando sentiu a necessidade de apontar o celular para si mesma, descobrindo uma “pulsão criadora inexorável”, conforme descreve Aldonso Palácio.
“Jane Batista desafia a violência estrutural e as representações preconceituosas de pessoas racializadas, tornando possíveis múltiplas transformações como forma de não se calar perante injustiças”, afirma o curador e também colunista do Tapis Rouge.
Todas as fotos presentes na exposição, sem exceção, foram produzidas e editadas pelo celular da artista, que diz não saber exatamente o momento em que se descobriu fazendo arte. “Não saberia dizer quando começou, mas em algum momento entendi que estava passando sentimentos naqueles registros e que eles poderiam ser sentidos também por outras pessoas. A partir dali, o desejo de expor tudo isso foi ganhando forma”, resgata.
A impressão e revisão das imagens foram feitas por Gentil Barreira, um dos maiores nomes da fotografia contemporânea. A exposição conta ainda com a produção executiva e a expografia de Rafaela Leite e a participação da pesquisadora de arte afro-brasileira Cecília Calaça, tanto nos textos do catálogo como na mediação da fala da artista, também no mês de julho, na Imagem Brasil Galeria.
Agora, prestes a mostrar seu olhar ao mundo, Jane se diz feliz por tal feito. “Pude representar minhas dores por meio de cordas e tecidos, que nos calam e querem fechar nossa visão para o mundo. Espero que as pessoas vejam e sintam empatia pela dor do outro, que não existe apenas um padrão estético de beleza e que amem mais a si mesmo. Eu, como mulher negra, já sofri muitos olhares de julgamento. Isto precisa mudar”, completa Jane Batista.
Serviço:
Exposição Dizer o Silêncio
Abertura: Neste sábado (8), às 10h
Visitação: até 2 de setembro
Na Imagem Brasil Galeria (Rua Rocha Lima, 1701 – Aldeota)
Acesso gratuito