
O Ceará pode se tornar o primeiro estado brasileiro a cultivar pistache, fruto altamente valorizado e até agora 100% importado pelo país. A iniciativa é defendida por agricultores locais, que apostam na região da Serra da Ibiapaba como possível solo fértil para o cultivo do pistache, cuja planta se adapta a climas quentes, mas precisa de períodos constantes de temperaturas baixas.
A proposta, mesmo promissora, esbarra em desafios técnicos, burocráticos e climáticos. O tempo é outro fator: caso a empreitada tenha sucesso, a primeira safra só chega depois de aproximadamente dez anos do início da produção.
De acordo com a Embrapa Agroindústria Tropical, o cultivo do pistache esbarra na ausência de germoplasma, que depende de autorização do Ministério da Agricultura e passa por um processo de quarentena que pode levar até 18 meses. Só após essa etapa seria possível iniciar o plantio das primeiras mudas. Mesmo com sucesso nos testes, a planta leva cerca de dez anos para alcançar seu ciclo produtivo completo.
Apesar da lentidão, os agricultores cearenses mantêm o otimismo. A aposta é abastecer o mercado interno com preços mais competitivos e reduzir a dependência das importações, que triplicaram nos últimos dois anos — passando de 350 para mais de mil toneladas em 2024, segundo dados da Comex Stat. Hoje, 85% do pistache consumido no Brasil vem dos Estados Unidos.
Estudos anteriores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) apontaram o Nordeste — em especial a região de Petrolina e Juazeiro — como promissora para o cultivo experimental do pistache, principalmente se associado a culturas mais rápidas, como as videiras. No entanto, até o momento, o Ceará segue liderando a frente de inovação.
Caso as condições técnicas e logísticas se alinhem, o estado pode inaugurar uma nova era agrícola no país, transformando a Serra da Ibiapaba no berço nacional do pistache.
De onde vem o nosso pistache
O fruto verde tem um cultivo milenar originário das áreas montanhosas do Oriente Médio, tendo sido citado nos escritos bíblicos do Velho Testamento como um dos “melhores produtos da nossa terra”.
No Brasil, é comum pensar que a noz do pistache seja uma novidade. Mas os números ajudam a explicar uma verdadeira invasão no nosso mercado. Em menos de dois anos, as importações brasileiras triplicaram.
Foram de 350 toneladas, em 2022, para mais de mil toneladas até novembro de 2024, segundo informações da Comex Stat, plataforma do governo federal com dados sobre o comércio exterior.
Estados Unidos e Irã dominam o mercado mundial de pistache, sendo responsáveis por cerca de 75% da produção. Das mais de mil toneladas de pistache importadas no Brasil em 2024, 85% vieram dos Estados Unidos.
De alto valor comercial, o pistache que entra no país hoje se baseia nas alterações do preço do dólar. Um dos potenciais para a produção local é abastecer o mercado interno com valores mais baratos.
Características da planta
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2024/n/1/CIGSblSEWLUJcJZKz1TA/borelli-pistache1-2-1-.jpg)
O pistacheiro é uma planta originária da Pérsia (atual Irã), região com clima desértico e temperaturas baixas no inverno. A planta pertence à família Anacardiaceae, a mesma família do cajueiro e da mangueira.
Uma das diferenças é que os cajueiros e as mangueiras se adaptam a climas quentes, enquanto o pistacheiro necessita de períodos de frio, de acordo com a Embrapa Agroindústria Tropical.
A árvore de pistache demora cerca de dez anos para ter um ciclo reprodutivo completo. Depois disso, pode durar até 100 anos caso seja bem cuidada.
Nos Estados Unidos, a produção se concentra principalmente no Vale de San Joaquín, na Califórnia. A região central do estado, com verões longos e períodos de inverno com temperaturas moderadas, aposta em técnicas de produção e colheita para liderar o mercado do pistache.