
O governo federal, por meio do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), está desenvolvendo uma estratégia emergencial para aumentar a capacidade de escoamento de energia no Nordeste.
A medida visa garantir condições para que empreendimentos de hidrogênio verde possam tomar decisões finais de investimento já a partir de 2026. A expectativa é liberar pelo menos 1 gigawatt (GW) de capacidade entre os estados do Ceará e Piauí, que concentram os maiores projetos do setor.
Atualmente, a infraestrutura de transmissão não comporta toda a energia gerada, especialmente em horários de pico. A negativa de acesso à rede por parte do ONS em janeiro acendeu alertas entre empresas do setor.
Projetos como o da Solatio, no Piauí, com capacidade prevista de 3 GW, e os empreendimentos localizados no porto do Pecém, no Ceará, com mais de 5 GW, ainda aguardam condições técnicas para viabilização.
Planejamento enfrenta entraves logísticos e políticos
Mesmo que as medidas para ampliação da rede avancem, técnicos do ONS se mostram céticos quanto à viabilidade total dos projetos até o início da próxima década. A escassez de equipamentos no mercado internacional e a falta de estrutura adequada dificultam o atendimento pleno da demanda.
Até o final de 2025, o ONS deve apresentar propostas de obras que abram espaço para até 1,8 GW adicionais, número ainda inferior à soma dos projetos que aguardam aval para iniciar suas operações. Parte dessa energia, no entanto, já está comprometida com data centers da empresa Casa dos Ventos, autorizados recentemente.
A EPE também prepara estudos para mapear onde instalar novas estruturas de transmissão, de modo a liberar mais 4 GW para a região. A previsão é que essas obras só fiquem prontas em 2031, o que pode atrasar projetos previstos para começar a operar em 2028, período que coincide com o início da concessão de créditos do Programa de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC).
Nova exigência financeira tenta evitar especulação
Em resposta ao aumento de propostas e à necessidade de filtrar empreendimentos com maior viabilidade, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou em maio um novo modelo de garantias.
A partir de agora, empresas interessadas em conectar seus projetos à rede precisarão pagar uma caução financeira, que pode chegar a R$ 350 milhões por gigawatt autorizado.
O mecanismo foi bem recebido tanto por autoridades quanto pelo setor produtivo. A exigência pretende evitar projetos especulativos e reforçar a seriedade das propostas, exigindo também comprovação de maturidade, como licenciamento ambiental e aquisição de terrenos.
Apesar dos desafios, há otimismo quanto ao avanço do hidrogênio verde no Brasil. Para Fernanda Delgado, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), a liberação mesmo parcial da capacidade de escoamento já será suficiente para garantir financiamento de parte dos projetos. “Sem parecer de acesso, não há como buscar apoio bancário”, explicou.
Principais projetos com decisão final de investimento prevista para 2026
- Solatio (PI)
- Fortescue (CE)
- Casa dos Ventos (CE)
- European Energy (PE)
- Atlas Agro (MG)
- Voltalia (CE)
- Qair (CE)
- FRV (CE)