
Os traumas psicológicos na infância, muitas vezes negligenciados ou minimizados, representam lacunas emocionais profundas que podem ecoar silenciosamente ao longo de toda a vida. Essas experiências dolorosas ou ameaçadoras, que excedem a capacidade da criança de processar e lidar, não se restringem a eventos extraordinários. Maus-tratos físicos, abuso emocional, negligência, bullying, violência doméstica, separações traumáticas e perdas significativas são realidades mais comuns do que se imagina e podem deixar marcas duradouras.
É crucial desmistificar a ideia de que o trauma reside unicamente no acontecimento em si. A experiência intersubjetiva propõe que cada evento pode repercutir para cada um de maneira diferente. No entanto, é sabido que a falta de amparo e suporte emocional adequado diante dessas situações é o fator determinante para a instalação do trauma. Uma criança que vivencia uma dificuldade, mas encontra acolhimento, segurança e validação de seus sentimentos, tem muito mais chances de desenvolver resiliência.
Os efeitos desses traumas na infância podem ser sutis, mas permeiam diversas áreas do desenvolvimento. Dificuldades de aprendizado, problemas de socialização, instabilidade emocional, baixa autoestima e comportamentos desafiadores podem ser sinais de um sofrimento psíquico não elaborado. E o que muitas vezes passa despercebido na infância pode se manifestar de forma mais complexa na vida adulta, dificultando o autoconhecimento, relacionamentos, o desempenho profissional e a saúde mental de maneira geral.
“Muitas vezes, os impactos dos traumas na infância são invisíveis aos olhos, mas profundamente marcantes. Acolher, validar e buscar ajuda profissional são passos essenciais para que essas crianças possam buscar ajustamentos psíquicos mais saudáveis e construir um forte senso de self para além dos desafios vividos”, afirma Sarah Rebeca Barreto, psicóloga e Educadora Parental.
A boa notícia é que a psicoterapia infantil oferece um espaço seguro e acolhedor para que crianças e adolescentes possam entrar em contato com suas experiências traumáticas, nomear suas emoções e desenvolver mecanismos de enfrentamento mais saudáveis.
“A intervenção precoce é fundamental, aproveitando a notável plasticidade do cérebro infantil, que possui uma capacidade surpreendente de se ajustar e aprender novas formas de lidar com as adversidades. Quanto mais cedo as experiências vividas traumáticas são abordadas, maiores são as chances de mitigar seus efeitos a longo prazo e promover um desenvolvimento saudável. Ignorar ou minimizar o sofrimento infantil pode tornar o processo de tratamento muito mais desafiador na vida adulta. A ação dos cuidadores de não abordar assuntos delicados visando “proteger” a criança pode, na verdade, dessensibilizar na vida adulta o reconhecimento de que se precisa de suporte. É bem comum adultos chegarem no consultório com sintomas que desvelam necessidades não atendidas ou não reconhecidas com inteireza ainda na infância. “, finaliza a profissional.