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Cearense Yara Canta é destaque em desfile de escola de samba do Rio

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A cearense Yara Canta esteve na Sapucaí, no Rio de Janeiro. Ela foi um dos destaques da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, que homenageou a primeira travesti da história do Brasil. A escola tinha como o enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”.

Yara representou Geni, a travesti personagem da música “Geni e o Zepelim”, lançada por Chico Buarque em 1979, durante a ditadura, como crítica à hipocrisia da sociedade, ao preconceito e à exploração das pessoas mais vulnerabilizadas. A artista cearense esteve no quarto carro alegórico, o penúltimo do desfile da Tuiuti, chamado de “Pajubá”, desta terça-feira (4).

A alegoria foi formada por bordões desse dialeto cifrado que a comunidade LGBTQIAPN+ criou na década de 1970 como forma de resistência ao regime militar e uma forma de preservar as próprias identidades. O carro abriu caminho para a chegada de uma ala composta somente por travestis e mulheres trans.

Preta como Xica

“Eu sou uma travesti preta, assim como a Xica Manicongo. Então, é muito simbólico estar nesse lugar, em uma festa que é de origem negra e enaltecendo a vida de uma transancestral. Estamos no maior espetáculo do planeta ao mesmo tempo em que vivemos a contradição de sermos o país que mais mata pessoas LGBTs no mundo. Nossa maior vingança a esse extermínio é permanecermos vivas e ocuparmos todos os espaços que historicamente nos foram negados”, disse Yara.

A participação da cearense no desfile foi possível graças a uma parceria da Tuiuti com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Ao definir Xica Manicongo como enredo de 2025, a escola convidou a organização não governamental para contribuir com os trabalhos. Isso resultou no projeto “Transcidadania no Samba”, idealizado pela também travesti cearense Bruna Benevides – presidenta da Antra – e que promoveu duas oficinas de formação para pessoas trans, fazendo Yara viver um 2024 frequentemente dentro da quadra da agremiação.

Yara participou de todos os eventos relacionados ao desfile, do lançamento do enredo aos ensaios de rua e ensaios técnicos. “As meninas que participaram da oficina de adereços e fantasias foram contratadas pela escola para confeccionarem as fantasias do desfile. E as meninas que participaram da oficina de samba vão pra avenida, na ala em homenagem a Eloina dos Leopardos, primeira rainha de bateria da história do carnaval, que é travesti e também estará conosco. Então, não se trata apenas de estar por estar. A gente quer representatividade com intervenção, com desdobramento prático das mudanças que defendemos. Esse carnaval significa isso pra gente”, acrescentou Yara.

Xica Manicongo

Xica Manicongo foi a primeira travesti de quem se tem notícia no Brasil. Natural de África, ela foi escravizada e trazida à força do Congo para Salvador. Trabalhou como sapateira e não aceitava vestir roupas feitas para homens.

Acabou sendo acusada de sodomia e feitiçaria, sendo condenada à morte pelo Tribunal do Santo Ofício. Terminou queimada viva em praça pública.

Yara Canta

Yara Cavalcante – conhecida na cena artística como Yara Canta – tem 30 anos. Iniciou a carreira aos 18 anos e soma experiências na música, no teatro e em produções culturais diversas.

Mora atualmente em Niterói, no Rio de Janeiro, para onde mudou-se ao ser convidada a fazer parte da Antra, e está sempre na ponte aérea para o Ceará, estado no qual a família ainda vive.

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