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Entenda como tem sido a participação e o uso do TikTok neste período eleitoral

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Em 2014, as lojas de aplicativos virtuais adicionaram mais um nome aos seus catálogos: a plataforma “musical.ly”, voltada para edição de vídeos curtos e musicais como forma de entretenimento. Quatro anos depois, o app mudou de nome, mantendo, no entanto, o seu propósito inicial. Surgia assim o TikTok, que teria o seu boom em 2020, especialmente durante a pandemia de Covid-19.

De acordo com dados da agência App Annie, o brasileiro gasta, em média, mais de cinco horas do seu dia em aplicativos, e os tem como fonte principal de informações. Ademais, dados da Comscore, empresa estadunidense de análise da internet, revelam que no Brasil, dos 126,5 milhões de habitantes com acesso à internet, 97,6% usam redes sociais. Desse número, 58% são usuários da plataforma de compartilhamento de vídeos rápidos.

A princípio, o TikTok era conhecido por suas dancinhas virais e conteúdo cômico, e tanto o perfil de seus usuários quanto a sua proposta de uso não abriam muito espaço para manifestações políticas. Porém, essa é uma realidade que está em transformação, pois com a aproximação das eleições, o debate político vem se inserindo cada vez mais na plataforma, aumentando o seu potencial de influência na disputa eleitoral deste ano.

Esfera pública e as redes sociais

Os dados citados anteriormente mostram como as redes sociais, em especial o TikTok, se tornaram espaços nos quais a esfera pública se articula. Antes, debates dessa natureza eram muito comuns em centros políticos, escolas e universidades, mas a sociedade atual acrescentou mais um local no qual a política pode e deve ser debatida, com o intuito de alcançar cada vez mais pessoas: o digital.

Gabriela Lima, doutoranda em Ciência Política pela Universidade de Lisboa e coordenadora do curso de Especialização em Direito Digital e das Startups da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, relembra que, ao começar a estudar a relação entre tecnologia e sociedade, muito se falava sobre a internet e as redes sociais como uma potencializadora de uma democracia mais participativa e mais direta.

Hoje, no entanto, com crescentes abusos no ambiente virtual, alguns cuidados e limites já foram criados para essa relação. “Mas eu ainda vejo a internet e as redes sociais como democratizadoras do conhecimento político e vetores de potencialização de certas atitudes cidadãs, como a participação e o engajamento social. E, definitivamente, é muito importante que os políticos estejam engajados nessas redes, trazendo não só transparência para seus mandatos, mas também essa aproximação com as demandas sociais”, pontua Lima.

Os jovens estão conectados

O relatório Juventudes e Democracia na América Latina, coordenado pelas pesquisadoras Esther Solano e Camila Rocha, mostra o entendimento dos jovens de quatro países do continente (Argentina, Brasil, Colômbia e México) em relação à democracia, e como eles se informam e participam da política. Em suas conclusões, o documento informa que os jovens, em sua grande maioria, defendem a democracia, mas se sentem muito desconectados emocional e afetivamente das instituições democráticas.

“Isso vem de uma desconexão, de uma dissonância, muitas vezes, entre a comunicação dessas instituições, que são tão tradicionais, com os jovens, que têm outro tipo de comunicação, outras preocupações. E as mídias digitais podem aproximar essas instituições, mesmo carregadas de tradicionalismo, dessa população mais nova”, comentou Gabriela Lima.

Um grande exemplo de como as redes sociais podem aproximar os jovens da política foi o engajamento de muitos artistas e figuras públicas convocando os jovens entre 16 e 18 anos a tirarem o título de eleitor. A mobilização resultou no ganho de 2.042.817 novos eleitores, um aumento de 47,2% em relação ao mesmo período em 2018, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para a doutoranda, números como esse mostram que os jovens estão conectados e querem participar da política. Entretanto, eles querem ter uma voz ativa a partir daquilo que consideram importante. Assim, Gabriela reforça que, em sua visão, as mídias podem ser utilizadas muito mais para conversar sobre ideais e sobre um futuro compartilhado, e o que a sociedade pode fazer para alcançar o que deseja.

A jornalista Eduarda Pessoa também acredita que as redes têm o potencial de unir os jovens e a política. Entretanto, ela lança dois questionamentos: “como fazer isso?” e “quais são os ‘gatilhos’ para atrair esse público?”. A egressa, que em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu o perfil PoliTik no TikTok para falar sobre política e tornar o jornalismo político mais acessível, explica que a plataforma tem um algoritmo muito aguçado, e mostra para o usuário apenas o que ele tem interesse.

Nas métricas que colheu até agora, Pessoa observa o perfil de seus seguidores e conclui que a maioria se adequa ao público mais velho e masculino, que geralmente já tem o interesse prévio por política, e consomem esse conteúdo no aplicativo.

“Então, como atrair [outros usuários]? Você vai ter que usar os recursos da plataforma, hashtags e pensar em formas de ampliar e entregar os seus vídeos. Mas, a lógica do algoritmo é muito direcionada, então também tem esse desafio, porque o TikTok tem uma entrega muito boa, ao passo que ele seleciona o público a partir dos rastros de pesquisa e de conteúdo que ele consome”, esclarece ela.

E a superficialidade?

Atualmente, o TikTok permite vídeos de até três minutos. Há quem diga que é um tempo reduzido para produzir conteúdos completos, e que isso reforça a superficialidade já tão presente na sociedade contemporânea. Porém, mesmo que o tempo mais condensado deixe determinados tópicos mais superficiais, é importante lembrar que a discussão política tradicional já é baseada na veiculação de mensagens curtas.

Gabriela Limaanalisa que o trabalho nas redes sociais é uma nova configuração de comunicação, e que a comunicação política deve se adaptar a isso. “Acho que quem quer se comunicar vai entendendo essas tendências e vai passando a adaptar a forma como fala. Eu vejo que se você quer criar esse relacionamento com o seu eleitorado, com as pessoas que querem te ouvir, o TikTok pode ser uma boa plataforma, até porque os vídeos são muito curtinhos, mas se você tem esse relacionamento que perdura no tempo, você consegue conversar muito”, afirma a docente.

Eduarda Pessoa observou na prática a demanda por vídeos curtos no aplicativo, mesmo por parte de um público mais velho. A jornalista conta ter constatado uma necessidade em acelerar seus vídeos e sua fala para conseguir prender as pessoas até o fim do conteúdo.

“As pessoas não assistem [o vídeo] até o final. O negócio é a rolagem, a pessoa está lá pra rolar e ver vídeo. Então, isso é um desafio, e a gente entra nessa questão da superficialidade, mas a gente também entende as redes sociais, e eu até disserto sobre isso no meu projeto, como local de passagem, no qual as pessoas terão o primeiro contato com o tema e só então se aprofundarão nele. O que eu faço, por exemplo, para tentar mediar isso, é sempre deixar as fontes de todas as informações que eu coloco no vídeo, para eventualmente se a pessoa se interessar, ela se aprofundar sobre aquele tema”, assegura a egressa.

Parceria com o Tribunal Superior Eleitoral

Por ser uma plataforma relativamente “nova”, muito se debate sobre o que se pode penalizar ou não em relação à expressão política no TikTok. Desse modo, como garantir, especialmente nessa época eleitoral, que políticos e instituições democráticas adeptas ao aplicativo estão respeitando as leis?. Segundo Gabriela, essa já é uma preocupação muito genuína, e já tem sido discutida pelo Direito Digital e pelo Direito Eleitoral.

“E essa preocupação é algo que todos nós devemos ter enquanto cidadãos, de manter a integridade do processo eleitoral. Institucionalmente, a nível nacional, o responsável por isso é o TSE, e ele tem feito um trabalho muito consistente de parceria com todas essas redes sociais, como WhatsAppInstagramFacebook e o TikTok, pelo Projeto de Combate à Desinformação, que foi lançada em 2019 e se tornou permanente em 2021”, afirma a doutoranda em Ciência Política.

A coordenadora explica que, por meio desse programa, foi firmada uma parceria com a plataforma de compartilhamento de vídeos em fevereiro de 2022, justamente para que o TikTok entrasse também como um fiscalizador do processo eleitoral e do conteúdo que está sendo disponibilizado no aplicativo. Assim, o app terá uma página central de informações confiáveis sobre a eleição, e se comprometeu também a abrir um canal de denúncia.

“Essa é uma forma em que as redes sociais se mobilizam para que esse conteúdo, de alguma forma, seja regulado. Para que a liberdade de expressão seja utilizada na maior medida possível, sem invadir a esfera de outra pessoa e sem prejudicar a qualquer outro indivíduo envolvido em todo esse processo”, finaliza Lima.

Fonte: Universidade de Fortaleza

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