
A imagem do Sagitário A* é o buraco negro localizado ao centro da nossa galáxia, na Via Láctea, e pela primeira vez foi visto em uma imagem. O anúncio foi feito pelo Observatório Europeu do Sul (ESO). É a primeira evidência visual da existência deste objeto compacto e supermassivo, possível graças ao trabalho conjunto de uma equipe internacional de pesquisadores, chamada Colaboração Event Horizon Telescope (EHT).
Para a busca do objeto foram utilizados oito radiotelescópios espalhados por diversos pontos do globo terrestre. A partir das imagens captadas, que simulariam um super telescópio do tamanho da Terra, e da justaposição dos registros, chegou-se à imagem do buraco negro da Via Láctea.
De acordo com comunicado do ESO, embora não seja possível avistar o buraco negro em si, “o gás brilhante que o rodeia revela uma assinatura inconfundível: uma região central escura (chamada sombra) cercada por uma estrutura brilhante em forma de anel. A nova visão captura a luz que se curva sob a poderosa gravidade do buraco negro, que é quatro milhões de vezes mais massivo que o nosso Sol”.
Para a conclusão das fotos divulgadas neste 12 de maio, foram cerca de cinco anos desde a captação das imagens feitas em 2017, com a participação de mais de 300 profissionais de 80 instituições de diversos países, com tecnologia avançada e supercomputadores que analisaram e combinaram dados, além de uma rede mundial de radiotelescópios do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) e do Atacama Pathfinder EXperiment (APEX), instalados no deserto do Atacama no Chile, e do Telescópio IRAM de 30 metros na Espanha e do Noema (Northern Extended Millimeter Array), na França.
O anúncio sobre o buraco negro no “coração” da Via Láctea, a cerca de 27 mil anos-luz da Terra, foi realizado na Alemanha, mas mobilizou cientistas e imprensa de todo mundo, assim como em 2019, quando foi anunciada a primeira imagem de um dos objetos mais enigmáticos do Universo.
Galáxia Messier 87
Também com os esforços da Colaboração Event Horizon Telescope (EHT), foi realizado o primeiro registro, do chamado M87*, localizado na galáxia Messier 87. Pesquisadores destacam que embora os dois sejam diferentes, já que o Sagitário A* é cerca de mil vezes menor e menos massivo que o M87*, perto das bordas são bem semelhantes e que ambos podem apontar para respostas de pesquisas em andamento.
A astrofísica Thaisa Storchi Bergmann, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), destaca o empenho das equipes e da tecnologia utilizada. Este anúncio abre portas para avanços nas pesquisas, explicou. A cientista que já recebeu, em 2015, o Prêmio Internacional L’Oréal/Unesco para Mulheres na Ciência com pesquisa envolvendo buracos negros, descreve a emoção de conseguir visualizar o Sagitário A*.
Em uníssono, pesquisadores em anúncio nesta quinta-feira (12), na sede do Observatório Europeu do Sul, na Alemanha, destacaram o quão emblemático é registrar a imagem do que foi previsto há mais de 100 anos, pelo físico Albert Einstein, com a Teoria da Relatividade Geral. Segundo o ESO, os trabalhos de colaboração dos pesquisadores continuam em 2022, com expectativa para imagens mais detalhadas e quem sabe até filmes.